A Organização Indígena Instituto Kaingáng – Inka, anuncia com pesar a morte do seu colaborador e artesão indígena do povo Kaingáng do Rio Grande do Sul, Valdir Mig Carvalho, conhecido como Guele, conselheiro indígena e participante de inúmeros projetos da organização nesta última quinta, (07).
O artesão, que se identificava nos trabalhos do Inka voltados à educação e cultura indígena do povo Kaingáng, era um homem simples, defensor da língua e tradições Kaingáng e participava ativamente, ao longo dos últimos anos, das diversas ações promovidas pelo Inka junto ao público Kaingáng.
Guele integrou, no contexto da pandemia em 2021, as gravações do audiovisual sobre Cerâmica Tradicional Indígena Kaingáng que resultou também em um e-book. Em 2022, teve participação na reportagem da agência internacional de notícias Mongabay, realizada em conjunto com profissionais do Inka sobre a perda da araucária e seu impacto para a cultura Kaingáng no Brasil. No mesmo ano, participou do projeto audiovisual do Inka, vencedor do edital IberCultura Viva de Apoio a Redes e Projetos de Trabalho Colaborativo, uma iniciativa para apresentar manifestações regionais nas fronteiras entre Brasil, Bolívia e Uruguai. Recentemente, em janeiro de 2023, o artesão esteve na Consulta Pública liderada pelo Inka e organizações indígenas sobre o uso de Expressões Culturais Tradicionais Kaingáng em obra audiovisual, que resultou no 1⁰ Protocolo Comunitário Kaingáng do Brasil acerca do tema.
Guele era filho da matriarca indígena do povo Kaingáng e mestre de tradição oral, Maria Griá, ainda viva, com 109 anos de idade, e possuía grande respeito como conselheiro, integrando o Conselho de Anciãos da Terra Indígena Serrinha, no norte do Estado do Rio Grande do Sul, sendo vítima de perseguição e violência por espancamento em 2021 por lideranças da aldeia ao discordar das situações de corrupção na comunidade, sendo expulso da Serrinha no mesmo ano junto com outras 30 famílias em um cenário impiedoso que domina diversas comunidades Kaingáng na região Sul.
O artesão vinha enfrentando problemas de saúde e estava residindo no acampamento indígena de Mato Castelhano (RS), onde aguardava na esperança de justiça e retorno ao território da Serrinha.
O Instituto Kaingáng, em nome de toda sua equipe institucional, lamenta sua morte prematura em um momento onde o artesão buscava reparação e reestrutura de vida e recordamos que suas contribuições estarão guardadas na memória coletiva Kaingáng e algumas delas, registradas e documentadas por este Instituto como patrimônio cultural de todo o povo Kaingáng.